No dia 20 de Outubro de 2016, compareceram à reunião os membros Maria Ivonete, Tiago, Tatiele, Luana, Celso, Jorcilene e Laura. A doutoranda Luana apresentou questões relativas ao seu trabalho de pesquisa em doutoramento na área de Estudos Literários, associando-as à leitura do suporte teórico “Devires autobiográficos: a atualidade da escrita de si”, de autoria da estudiosa Elisabeth Muylaert Duque-Estrada. A partir do referido contexto, os membros do grupo levantaram questões e apontamentos.

A pesquisadora que conduziu a reunião centrou seu estudo na obra do escritor argentino César Aira; ela empenha seu foco nas múltiplas formas pelas quais se tornam perceptíveis as fronteiras entre o autor e a voz que se enuncia no texto.

Apoiada em autores como Foucault – no que tange as narrativas do “eu”, e as relações entre tradição histórica e escrita religiosa –, e ainda filósofos e literatos como Giles Deleuze, Friedrich Nietzsche, Jaques Derrida, Maurice Blanchot, Starobinski e Montaigne, citados por Duque-Estrada, Luana aborda as tendências contemporâneas, visíveis na literatura, em que se dão possibilidades de leitura sobre a complexidade autobiográfica, buscando descolar-se das visões tradicionais que envolvem o termo “autobiografia”.

Maria Ivonete ressaltou a importância de se avaliar as quebras de paradigmas propiciadas pelas narrativas e romances do século XX, além das reviravoltas do campo literário no século XXI, citando a obra monumental de Jean-Yves Tadié sobre o assunto.

Luana tece reflexões acerca de questões que envolvem a formatação do gênero autobiografia, entendendo-a como classificação conservadora e arbitrária. A pesquisadora adota por método e postura a desconstrução, tal como a sugere Derrida: ver o não dito, o sugerido, aproximando-se de uma verdade provisória por meio do socavamento do texto.

As relações entre escrita e sujeito são levantadas do ponto de vista da crítica do conceito de sujeito e suas mudanças históricas, tendo em consideração a instabilidade das relações entre subjetividade e escrita. A discussão sobre a memória também se apresentou como uma constante, haja visto a importância do tema para o estudo do que tem sido descrito sob variada nomenclatura: “biografia ficcionalizada”, “literatura do eu”, “literatura confessional”, “literatura autobiográfica”. Contudo, a antiga questão do Ser subjaz em toda investigação a respeito do sujeito e sua imersão na escrita. Em outras palavras, importa indagar a natureza do ser, imerso na escrita, atentando também para as diferentes concepções do que vem a se constituir como “realidade”, essa que supostamente se mostraria nua e transparente na escrita confessional.

“A vida não cabendo no papel” foi uma expressão cunhada na reunião para dar luz à ideia da limitação da escrita frente à vida. Pensou-se, assim, as aberturas da palavra para o silêncio. Mas reiterou-se também a noção de que o “papel”, enquanto lida humana, também é vida e, portanto, a cisão entre vida e arte é inconcebível do ponto de vista da realidade psíquica, sendo que ambos são frutos de um mesmo devir histórico e existencial.

Do que foi dito sobre o sujeito “moderno”, muitas perguntas foram levantadas; considerando o fato de que o termo polissêmico “moderno” abriga certa cosmovisão que representa o sujeito como fragmento e lacuna, por oposição ao sujeito clássico, sendo perceptível uma tendência à desconstrução, que beira o niilismo. Ambas as abstrações trabalham com o conceito de “sujeito” genérico, como se fosse um protótipo que desse conta da plurivocidade fenomênica. A literatura problematiza tais questões sem pretensões de resolver o paradoxo.

Ademais, perpassaram os comentários do grupo reflexões atinentes ao advento de uma linguagem não instrumental como forma de libertar a criação artístico-literária das amarras e couraças do estilo forçado e do gênero limitante, enfim, das coerções mercadológicas e acadêmicas.