Compareceram à reunião: Professora Drª Maria Ivonete Santos Silva (coordenadora do grupo), Luana Marques Fidêncio, Tatiele da Cunha Freitas, Ana Paula Silveira e Tiago Abreu.

Pauta: 

Antes de iniciar o encontro, a professora Dra. Maria Ivonete fez algumas considerações de caráter geral a respeito do grupo, como o repasse do calendário do segundo semestre, a reserva das salas e o fato de incluirmos a Luana Marques Fidêncio, nova participante do grupo, como responsável pelo encontro de novembro, uma vez que o Tiago Marques estará fora apresentando trabalho em um congresso e não poderá, desse modo, conduzir a reunião na data designada para si. 

Quem ficou a cargo de conduzir as reflexões deste dia foi a Ana Paula Silveira, quem fez uma apresentação do seu projeto e, em seguida, discutiu com os participantes do grupo o livro "A Era do Vazio" de Gilles Lipovetsky, fazendo um paralelo com a obra que ela analisa em seu trabalho, "O Púcaro Búlgaro", de Campos de Carvalho.

Primeiramente, ela apresentou alguns aspectos da vida do autor estudado, como o fato de ele ter nascido em 1916, na cidade de Uberaba, depois ter ido morar em São Paulo onde se formou e, em seguida, ter se mudado para o Rio de Janeiro. Ana Paula também citou o fato de que o autor ficou 30 anos sem escrever romances, quando publicou "O Púcaro Búlgaro", na década de 60.

As obras de Campos de Carvalho, caracterizadas muitas vezes como tendo a loucura e o absurdo como seus eixos condutores, possuindo tanto um caráter cômico quanto trágico, mostram como o homem contemporâneo, se por um lado quer ser detentor de grande conhecimento tecnológico, por outro lado é dado à alienação e à demência. Suas história também têm um grande fundo filosófico, pois se apresenta como resistência ao sistema coercitivo, à realidade como ela é composta. Trata-se, portanto, de uma grande análise crítica da realidade. 

Nesse ponto da reunião, Ana Paula citou um ponto muito interessante do seu trabalho: de acordo com ela, as personagens do autor uberabense possuem um complexo de épico, sendo esta uma característica fundamental do herói contemporâneo. 

Ela também nos disse que, ao terminarmos de ler um livro de Campos de Carvalho, o que nos fica, enquanto leitores, é um sentimento de indiferença por parte do autor e das personagens a respeito do mundo, uma indiferença que tende a levar à solidão. 

Por mais cômicos que suas obras pareçam, a professora Maria Ivonete observa que apenas um leitor ingênuo se deixaria levar por isso, assim como se deixaria levar por essa indiferença mencionada. O Púcaro Búlgaro questiona a realidade (como já foi dito) e questiona essas verdades impostas de cima pra baixo, assim como a própria noção de democracia.

E o seu título se refere ao mito da Bulgária como uma terra gloriosa. É como se o autor chamasse a atenção para o fato de devermos buscar outro mito que não o mito do capital.

Sobre a "Era do Vazio" Ana Paula cita suas partes mais importantes, lembrando que o crítico mostra como o enfraquecimento da sociedade, dos costumes e do sujeito na contemporaneidade, assim como o ápice do consumismo promove um novo modo de socialização e individualização, causando uma ruptura com o que foi instituído anteriormente, sobretudo nos séculos XVII e XVIII. Essa sociedade contemporânea, é, pois, guiada pelos desejos, o indivíduo é encorajado cada vez mais a "ser ele mesmo", enquanto "o outro" vai ocupando menos espaço nessa nova ordem estabelecida. 

Isso pode levar à indiferença, conceito que Lipovetsky discute em um capítulo de "A Era do Vazio". Para o crítico, que compara esse termo com um "deserto", as pessoas, que não acreditam mais na religião nem no governo, vão sendo esvaziadas de sua consciência crítica a partir do esvaziamento de instituições como a família, o exército, o trabalho, dentre outros, de modo que tudo se torna líquido, incerto. E esse processo que leva à indiferença é adotado de forma inconsciente, sem que haja, portanto, resistência ou revolta por parte da população, resultando em um vazio que, por sua vez, resulta em apatia. 

Assim, o indivíduo indiferente nãos e apega a nada, não tem certeza de nada, adapta-se ao que lhe apareça e suas opiniões são efêmeras.

Em modo de conclusão, Ana Paula observa, de modo muito pertinente, que nosso papel como intelectuais é o de justamente estudar para poder lutar contra esse quadro tão desolador, porque não podemos aceitar essa fluidez pós-moderna e essa noção de progresso.