Registro Reunião: 09/03/2017
Compareceram: Profª Maria Ivonete, Tatiele Cunha, Luana Marques Fidêncio, Tiago Marques Luiz, Celso Cirilo e Jorcilene Nascimento.
Pauta:
Na reunião do dia
09/03/2017, a Profª. Maria Ivonete (líder do grupo Criticum) fez uma ponte dos
dois textos com Octavio Paz, na questão da subjetividade. À medida que a
professora Ivonete expunha suas leituras de Paz, foi feito um paralelo entre os
dois textos selecionados para o encontro. Enquanto o texto de Barthes era
dotado de muita consistência, no sentido de ter uma leitura complicada (talvez
devido à tradução que foi feita), o segundo texto era muito tranquilo, a ponto
de esclarecer alguns pontos do texto de Barthes.
O fait divers tem uma função de impacto, levando em consideração em
sua matéria textual a causa, a consequência e a frustração da expectativa do
leitor perante o fato noticioso. Tal fato, segundo os colegas, leva à
satisfação da curiosidade, contudo, a doutoranda Tatiele faz uma ressalva que
os prodígios da frustração desencadeiam um impacto positivo ou negativo. O fait divers, enquanto materialização do
fato noticioso, tem um vínculo com algo mais notável, além de contar com o
assassinato político. Além do chamado assassinato político, o fait divers não depende de contexto, ou
seja, ele é autossuficiente, mas o fato narrado depende de um contexto.
A estrutura do fait divers possui riqueza de detalhes,
grande proximidade com o leitor, causando um efeito de realidade, o que é muito
recorrente nas produções literárias contemporâneas. A professora Ivonete
questiona como o fait divers pode ser
utilizado dentro de um contexto literário, e pontua que nesse contexto se
relata as barbáries como o suicídio, os assassinatos, fatos chocantes, levando
em consideração uma linguagem bem articulada com a linguagem literária, que
levam ao envolvimento do leitor, ou seja, elas criam um tipo de sentimento no
leitor com o fato narrado, retomando uma fala de Schøllhammer
com “novo realismo”.
Em diálogo com Tatiele, a
professora Ivonete complementa que os fatos horríveis que acontecem não são
apenas um fait divers
descontextualizado, e sim, acontecimentos literários. A morte está sempre
presente como elemento do fait divers
e tanto a professora como o doutorando Celso resgataram que era comum ver isso
em algumas bancas de jornais em Brasília e em São Paulo, a ponto de “sair
sangue” durante a leitura do jornal. O doutorando Celso comenta que há uma
culpa por parte do leitor, no sentido de que a expectativa causada pela
curiosidade do fato narrado não é atingida, causando uma divisão; divisão de
que o plano daquele fato ocorreu com determinado sujeito e ele isentar do fato.
Em outras palavras, o leitor compactua com a realidade do fait divers, mas não se considera atingido por ela e nem parte
dela.
A professora Maria
Ivonete critica o leitor por criar uma tela perante o fait divers, como se não recebesse a catarse daquele acontecimento,
e também não há uma gratuidade por parte do fato narrado; a morte é
estruturante no fait divers. De
acordo com o segundo texto (Dion), o horror fascina, ilustrando uma
proximidade, uma verdade. O doutorando Celso exemplifica com a atração do
circo, que explorava a deformidade física dentro do circo, como os anões, o
homem-elefante, a mulher barbuda, etc. A estranheza desperta curiosidade, assim
como o sobrenatural. Segundo a professora Ivonete, o fait divers nunca vai
apresentar o fato em sua concretude, e sim apontar desvios, transgressões, lapsos
e deslocamentos na matéria textual, ou seja, há uma ruptura daquilo que é
regido por padrões e normas.
De modo a diferenciar o
fato noticioso para o texto literário, a doutoranda Tatiele constata que o
impacto, independentemente de ser positivo ou negativo, se completa, enquanto
que no texto literário, o impacto surge como um meio. Complementando o
raciocínio de Tatiele, a professora retoma um trecho de Gota D’água, de Chico Buarque, sobre o assassinato da Joana, como
forma de retratar a falta de compromisso do leitor em relação a determinado
acontecimento.
Dentre as características
do fait divers, estão a imanência e a
repetição de eventos, a ponto de no próprio telejornal existirem bordões específicos
para cada noticia, sem precisar de “contorcionismos”, segundo o doutorando
Celso. A mestranda Jorcilene retoma uma das falas da professora Ivonete,
dizendo que concorda com a professora a respeito do “encantamento” do fait divers, no sentido de que tal “encantamento”,
positivo ou não, atrai a atenção do leitor, a mensagem soa como nova, contudo
se trata de um assunto banal, velho.
O doutorando Celso abre um
parêntese na fala da mestranda, asseverando que o leitor tem a sua atenção para
aquilo que está nas suas expectativas, ou ressaltando aquilo que o doutorando
Tiago menciona que são os estereótipos cristalizados, como o político corrupto,
a título de exemplo.
A repetição de temas, com
exaltação das quantidades de vítimas no fait
divers causa uma reação de espanto no leitor. Trazendo como exemplo do fait
divers, a respeito do horror que fascina, o doutorando Celso relata a experiência
que teve com uma colega de trabalho em Conceição das Alagoas. A colega fazia a
seguinte pergunta: “Tem sangue?”, não levando em consideração o número de
acidentados ou o modo como se sucedeu o acidente. A pergunta “Tem sangue?”, da
colega de Celso soou como elemento desencadeador de tensões e curiosidade. Para
acrescentar à questão do fascínio sobre o horror, a professora Maria Ivonete lembra
de um colega de Brasília que vivia sofrendo de dor de garganta por viver
assistindo filmes de terror.
No decorrer da discussão,
Prof
ª. Ivonete retoma uma
fala de Foucault, que tal fato deve ser visto como algo singular. Ainda no segundo
texto, a autora traça uma cronologia do surgimento do fait divers, a partir da imprensa popular no século XVII, que
atingia um público alfabetizado, porém não intelectualizado.
Tal desenvolvimento vai
ao encontro da criação da sátira, com exagero dos fatos, como também com o
desenvolvimento do comercio, principalmente as feiras que eram o local de maior
concentração das camadas sociais, como também o espaço ideal para a divulgação do
fait divers. O doutorando Celso faz
um comentário sobre a questão da comunicação na década de 60, 70, onde o rádio
era o veículo de transmissão dos fatos ou quando não havia o rádio, era via
oral por meio um número x de pessoas incumbidas de repassar a informação.
Dentre as formas
elencadas, estão as notícias ocasionais, as notícias manuscritas, as notícias extraordinárias
e o uso da gazeta como outro suporte do fait divers, como também as notícias
curiosas, cujas formas de veracidade eram inverificáveis. Coube ressaltar,
segundo a professora, que haviam os fait
divers de cunho popular, muito em voga no século XVII, no sentido de
extrapolar ou exagerar os fatos para o público-leitor, enquanto as gazetas
visavam um público mais intelectualizado. As notícias manuscritas vieram no século
XVIII, destinadas a todos os públicos.
Dentro do fait divers, há uma relação de
casualidade e de coincidência. A primeira relação é paradoxal, sempre tendo em
consideração a desproporção entre o efeito e a causa, a frustração da
expectativa. Na crítica literária, a professora traz à tona que muitas obras contemporâneas
deixam de ser classificadas como literárias, pelo fato de que o crítico não tem
conhecimento desse recurso e também desqualifica a matéria textual. Na relação de
casualidade, o Barthes aponta categorias, tais como os fatos inexplicáveis, os
crimes misteriosos e a surpresa dos números. Sobre a relação de coincidência,
esta se subdivide em dois grupos, a saber: a repetição dos acontecimentos e a aproximação,
subdividindo-se na desproporção e na inversão dos estereótipos, causando mais espanto
para o leitor/espectador do fait divers.
Por fim, o segundo texto
irá se debruçar na função social deste gênero, que vai retratar a incredulidade
das camadas intelectuais perante o fait divers, uma vez que este recurso
retratava os dramas da vida privada, não correspondendo às expectativas de uma
elite intelectualizada.
Para finalizar o
encontro, Profª. Maria Ivonete regozija de ter refeito estas leituras e como
tais reflexões de Barthes são muito recorrentes nas produções literárias contemporâneas.
Feitas as suas considerações, a professora deu por encerrado o encontro,
lembrando os demais membros que o próximo encontro ficará a cargo do doutorando
Celso.