Registro Reunião 06/04/2017
Compareceram: Professora Dra. Maria Ivonete Santos Silva (Coordenadora do grupo), Celso
Cirilo, Laura Coradi, Luana Fidêncio, Edna Fátima de Assis, Tiago Marques.
Pauta:
A reunião
do dia 06/04 foi relativa à apresentação de dois textos pelo pesquisador Celso
Cirilo: “Transculturação e gênero narrativo” (RAMA, Ángel) e “Do fenômeno
social da ‘transculturação’ e de sua importância em Cuba” (ORTIZ, Fernando).
Celso Cirilo nos
deu início a sua apresentação citando Roseli Barros e seu livro “Transculturação narrativa: seu
percurso na obra crítica de Ángel Rama”. Em seguida, mencionando também “A
cidade das letras”, livro de Rama. Como sugestão de leitura panorâmica sobre a
literatura latino-americana, mencionou o “La gran novela latinoamericana”, de
Carlos Fuentes. Ressaltou também a importância de se refletir sobre as
periferias e o centro nas literaturas latino-americanas. E sobre a necessidade
de lembrar que os processos pelos quais passaram a literatura brasileira são semelhantes
aos pelos quais passaram a literatura latino-americana.
Cirilo, ao mencionar a questão da adaptação, partiu da premissa de que o
senso comum, quando comparar a literatura com as demais mídias, pensa no
conceito de adaptação como algo que — como uma espécie de tradução — remete à
perda do sentido original de uma suposta obra fonte — e essa obra fonte
geralmente é a obra literária, pois ela que se torna muitas vezes matéria-prima
para as demais mídias.
A professora
Maria Ivonete acrescentou ainda que é muito comum nos apegarmos a uma dicotomia
"texto original" versus "texto adaptado" porque
necessitamos dessa segurança de pensar o original como "verdadeiro".
No entanto, que o conceito de adaptação deve estar mais próximo à ideia de
releitura que à ideia de tradução, pois, o suposto texto adaptado é recriado
para outras mídias que demandam outros suportes sob uma nova perspectiva. E que
cada novo texto contribui para a leitura e compreensão do texto em que se
baseia, ou seja, do texto matriz.
Dando
prosseguimento à sua apresentação, Cirilo ressalta que a primeira parte do
livro de Angél Rama trata da tentativa da literatura brasileira de se afastar
da literatura portuguesa e das hispano-americanas. Cirilo aborda em seguida a
terceira parte do livro de Rama, que trata da Transculturação como gênero
narrativo.
Lembra que o termo
transculturação surge em ensaio de Fernando Ortiz, em Cuba. E que Ortiz foi
quem, pela primeira vez, utilizou esse vocábulo, em pesquisa motivada pela
rapidez das mudanças e transformações que se observava em Cuba. No ímpeto de
tratar desse Trânsito de culturas que surge a Transculturação, no âmbito da
antropologia. De modo que, os movimentos de transculturação estariam
relacionados a momentos históricos importantes como: 1 – desaculturação; 2 –
Re-aculturação; 3 – Neo-culturação que resultariam na Transculturação. Importante
a ressalva de que os estudos Transculturais são de difícil conceituação.
Nesse sentido, a
professora Maria Ivonete retoma a questão da dificuldade de se conceituar os
estudos Trans ao alertar que esse prefixo possuiu um significado de
atravessamento, de modo que seu uso permite evidenciar os atravessamentos que
são inerentes às culturas e que as marcas desses atravessamentos ficam, por
exemplo, inscritas na língua. E que eles são capazes de provocar o hibridismo.
A professora ainda marca o quão é oportuno pensarmos no modo como se dá as
confluências nas relações culturais, ou, na conceituação Confluência, ou como
dizia Paz, convergência, e que ainda é totalmente atual nesta virada do século
XX para o XXI.
Cirilo então direcionou
sua fala para a questão da literatura. Pois, o conceito de transculturação se
expandiu, após o seu surgimento, vindo para os estudos literários, agora com o
acréscimo do termo “narrativa”. Grifou especialmente para a leitura para o
grupo o trecho do texto de Rama, página 264, onde se diz o seguinte: “Quando se aplica às obras literárias a
descrição de transculturação feita por Fernando Ortiz, chega-se a algumas
correções obrigatórias. Sua visão é geométrica, segundo três momentos. Implica
em primeiro lugar uma ‘parcial desaculturação’ que pode alcançar diversos graus
e afetar várias áreas tanto da cultura quanto do exercício literário, embora
acarretando sempre perda de componentes considerados obsoletos. Em segundo
lugar, implica incorporações procedentes da cultura externa, em terceiro, um
esforço de recomposição ao lidar com os elementos sobreviventes da cultura
original e os que vêm de fora.”
O pesquisador
citou ainda, no decorrer de sua apresentação alguns dos escritores
representativos enquanto escritores latino-americanos transculturadores: Juan
Rulfo, José Aguero e Guimarães Rosa. Todos escritores regionalistas que foram
capazes de empreender mudanças estéticas e linguísticas.
Após algumas
interferências de colegas, como a de Luana Marques, lembrando a rica relação
que Guimarães Rosa mantinha não só com a cultura popular brasileira (mineira)
como também com a europeia, como no caso da cultura germânica, por exemplo. E Celso
Cirilo retomou, antes de finalizar sua apresentação para lembrar que, assim
como afirma Ana Pizarro, a literatura latino-americana possui uma definição
cada vez mais em aberto. Em seguida houve algumas intervenções de membros do
grupo com falas relativas ao conteúdo do próximo encontro.
Com isso,
finalizou-se a reunião.