Compareceram: Professora Dra. Maria Ivonete Santos Silva (Coordenadora do grupo), Celso Cirilo, Laura Coradi, Luana Fidêncio, Edna Fátima de Assis, Tiago Marques.


Pauta:

A reunião do dia 06/04 foi relativa à apresentação de dois textos pelo pesquisador Celso Cirilo: “Transculturação e gênero narrativo” (RAMA, Ángel) e “Do fenômeno social da ‘transculturação’ e de sua importância em Cuba” (ORTIZ, Fernando).
Celso Cirilo nos deu início a sua apresentação citando Roseli Barros e seu livro “Transculturação narrativa: seu percurso na obra crítica de Ángel Rama”. Em seguida, mencionando também “A cidade das letras”, livro de Rama. Como sugestão de leitura panorâmica sobre a literatura latino-americana, mencionou o “La gran novela latinoamericana”, de Carlos Fuentes. Ressaltou também a importância de se refletir sobre as periferias e o centro nas literaturas latino-americanas. E sobre a necessidade de lembrar que os processos pelos quais passaram a literatura brasileira são semelhantes aos pelos quais passaram a literatura latino-americana.
Cirilo, ao mencionar a questão da adaptação, partiu da premissa de que o senso comum, quando comparar a literatura com as demais mídias, pensa no conceito de adaptação como algo que — como uma espécie de tradução — remete à perda do sentido original de uma suposta obra fonte — e essa obra fonte geralmente é a obra literária, pois ela que se torna muitas vezes matéria-prima para as demais mídias.
A professora Maria Ivonete acrescentou ainda que é muito comum nos apegarmos a uma dicotomia "texto original" versus "texto adaptado" porque necessitamos dessa segurança de pensar o original como "verdadeiro". No entanto, que o conceito de adaptação deve estar mais próximo à ideia de releitura que à ideia de tradução, pois, o suposto texto adaptado é recriado para outras mídias que demandam outros suportes sob uma nova perspectiva. E que cada novo texto contribui para a leitura e compreensão do texto em que se baseia, ou seja, do texto matriz. 
Dando prosseguimento à sua apresentação, Cirilo ressalta que a primeira parte do livro de Angél Rama trata da tentativa da literatura brasileira de se afastar da literatura portuguesa e das hispano-americanas. Cirilo aborda em seguida a terceira parte do livro de Rama, que trata da Transculturação como gênero narrativo.
Lembra que o termo transculturação surge em ensaio de Fernando Ortiz, em Cuba. E que Ortiz foi quem, pela primeira vez, utilizou esse vocábulo, em pesquisa motivada pela rapidez das mudanças e transformações que se observava em Cuba. No ímpeto de tratar desse Trânsito de culturas que surge a Transculturação, no âmbito da antropologia. De modo que, os movimentos de transculturação estariam relacionados a momentos históricos importantes como: 1 – desaculturação; 2 – Re-aculturação; 3 – Neo-culturação que resultariam na Transculturação. Importante a ressalva de que os estudos Transculturais são de difícil conceituação.
Nesse sentido, a professora Maria Ivonete retoma a questão da dificuldade de se conceituar os estudos Trans ao alertar que esse prefixo possuiu um significado de atravessamento, de modo que seu uso permite evidenciar os atravessamentos que são inerentes às culturas e que as marcas desses atravessamentos ficam, por exemplo, inscritas na língua. E que eles são capazes de provocar o hibridismo. A professora ainda marca o quão é oportuno pensarmos no modo como se dá as confluências nas relações culturais, ou, na conceituação Confluência, ou como dizia Paz, convergência, e que ainda é totalmente atual nesta virada do século XX para o XXI.
Cirilo então direcionou sua fala para a questão da literatura. Pois, o conceito de transculturação se expandiu, após o seu surgimento, vindo para os estudos literários, agora com o acréscimo do termo “narrativa”. Grifou especialmente para a leitura para o grupo o trecho do texto de Rama, página 264, onde se diz o seguinte:  “Quando se aplica às obras literárias a descrição de transculturação feita por Fernando Ortiz, chega-se a algumas correções obrigatórias. Sua visão é geométrica, segundo três momentos. Implica em primeiro lugar uma ‘parcial desaculturação’ que pode alcançar diversos graus e afetar várias áreas tanto da cultura quanto do exercício literário, embora acarretando sempre perda de componentes considerados obsoletos. Em segundo lugar, implica incorporações procedentes da cultura externa, em terceiro, um esforço de recomposição ao lidar com os elementos sobreviventes da cultura original e os que vêm de fora.”
O pesquisador citou ainda, no decorrer de sua apresentação alguns dos escritores representativos enquanto escritores latino-americanos transculturadores: Juan Rulfo, José Aguero e Guimarães Rosa. Todos escritores regionalistas que foram capazes de empreender mudanças estéticas e linguísticas.
Após algumas interferências de colegas, como a de Luana Marques, lembrando a rica relação que Guimarães Rosa mantinha não só com a cultura popular brasileira (mineira) como também com a europeia, como no caso da cultura germânica, por exemplo. E Celso Cirilo retomou, antes de finalizar sua apresentação para lembrar que, assim como afirma Ana Pizarro, a literatura latino-americana possui uma definição cada vez mais em aberto. Em seguida houve algumas intervenções de membros do grupo com falas relativas ao conteúdo do próximo encontro.

Com isso, finalizou-se a reunião.